sexta-feira, 13 de abril de 2012

O MISTER DAS MUDANÇAS SOCIAIS

A instabilidade hodierna na relação entre sociedade e ecossistemas modifica essencialmente a natureza, a extensão e o significado da questão da desigualdade no mundo contemporâneo.  Nesse contexto, o principal desafio da Rio+20 é reunir a construção da economia verde ao combate à desigualdade.  Esta alcança uma dimensão material inédita, da qual se podem citar dois exemplos vindos de importantes documentos internacionais recentes.

O primeiro refere-se ao uso dos recursos materiais necessários à reprodução social.  Trata-se da urgência em reduzir o consumo dos materiais e da energia que se encontram na base da riqueza social.  Sabe-se que a extração de recursos da superfície terrestre cresceu oito vezes durante o século XX, atingindo um total de 60 bilhões de toneladas anuais, considerando-se apenas o peso físico de quatro elementos: minérios, materiais de construção, combustíveis fósseis e biomassa.

O Diretor-geral do Pnuma (Achim Steiner) apregoa que nos próximos anos, o consumo médio global, num mundo com mais de 9 bilhões de habitantes, terá de cair das atuais 9 toneladas anuais per capita para algo em torno de 5 e 6 toneladas.  A função da ECONOMIA VERDE é justamente estimular inovações que propiciem muito mais bem-estar e utilidades que as oferecidas hoje. 

O segundo documento internacional, denominado “A Grande Transformação Tecnológica Verde”, propõe que se estabeleça um limite para o consumo per capita de energia – 70 gigajoules por ano –, esse limite sugerido refere-se à energia primária e pode ser em grande parte compensado pelo aumento na eficiência com que se usa a energia em todas as etapas anteriores à prestação dos serviços ou à produção dos bens e serviços a que se ela destina.

Destarte, o grande repto do século XXI será a elaboração de um metabolismo social capaz de assegurar a estabilidade e a regeneração dos serviços que os ecossistemas prestam às sociedades.  Em síntese, trata-se de chegar a um metabolismo industrial que reduza drasticamente o uso de carbono na base material e energética da sociedade e, ao mesmo tempo, ofereça oportunidades para que as necessidades básicas dos seres humanos sejam preenchidas.  Sem objetivos claros na redução da desigualdade, é forte o risco de que a própria legitimidade da economia verde seja colocada em questão.

Fonte: ABRAMOVAY, Ricardo.  Rio +20 + Mudança Social. Revista Página 22. Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2011, Caderno Revista, Edição 56.
Disponível em: http://pagina22.com.br/index.php/2011/09/rio-20-mudanca-social/. Acessado em: 23 de março de 2012.

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