A
instabilidade hodierna na relação entre sociedade e ecossistemas modifica
essencialmente a natureza, a extensão e o significado da questão da
desigualdade no mundo contemporâneo. Nesse contexto, o principal desafio
da Rio+20 é reunir a construção da economia verde ao combate à
desigualdade. Esta alcança uma dimensão material inédita, da qual se
podem citar dois exemplos vindos de importantes documentos internacionais
recentes.
O primeiro
refere-se ao uso dos recursos materiais necessários à reprodução social.
Trata-se da urgência em reduzir o consumo dos materiais e da energia que se
encontram na base da riqueza social. Sabe-se que a extração de recursos
da superfície terrestre cresceu oito vezes durante o século XX, atingindo um
total de 60 bilhões de toneladas anuais, considerando-se apenas o peso físico
de quatro elementos: minérios, materiais de construção, combustíveis fósseis e
biomassa.
O
Diretor-geral do Pnuma (Achim Steiner) apregoa que nos próximos anos, o consumo
médio global, num mundo com mais de 9 bilhões de habitantes, terá de cair das
atuais 9 toneladas anuais per capita para algo em torno de 5 e 6
toneladas. A função da ECONOMIA VERDE é justamente estimular inovações
que propiciem muito mais bem-estar e utilidades que as oferecidas hoje.
O segundo
documento internacional, denominado “A Grande Transformação Tecnológica Verde”,
propõe que se estabeleça um limite para o consumo per capita de energia
– 70 gigajoules por ano –, esse limite sugerido refere-se à energia primária e
pode ser em grande parte compensado pelo aumento na eficiência com que se usa a
energia em todas as etapas anteriores à prestação dos serviços ou à produção
dos bens e serviços a que se ela destina.
Destarte, o
grande repto do século XXI será a elaboração de um metabolismo social capaz de
assegurar a estabilidade e a regeneração dos serviços que os ecossistemas
prestam às sociedades. Em síntese, trata-se de chegar a um metabolismo
industrial que reduza drasticamente o uso de carbono na base material e
energética da sociedade e, ao mesmo tempo, ofereça oportunidades para que as
necessidades básicas dos seres humanos sejam preenchidas. Sem objetivos
claros na redução da desigualdade, é forte o risco de que a própria
legitimidade da economia verde seja colocada em questão.
Fonte:
ABRAMOVAY, Ricardo. Rio +20 + Mudança Social. Revista Página 22. Rio de Janeiro, 15 de
setembro de 2011, Caderno Revista, Edição 56.
Disponível
em: http://pagina22.com.br/index.php/2011/09/rio-20-mudanca-social/. Acessado em: 23 de março de 2012.
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