Sem objetivos claros na redução da desigualdade,
é forte o risco de que a própria legitimidade
da economia verde seja colocada em questão
Uma das
perguntas mais difíceis de se responder é certamente esta: “Crescer para quê?”
Sem sombra de dúvida, a ECONOMIA VERDE é a chave-mestra para chegarmos ao tão
propalado desenvolvimento com sustentabilidade, podendo almejar um futuro mais
equilibrado em um planeta inexoravelmente finito.
A divisão na
atual relação entre a sociedade e os ecossistemas, onde tão somente acoplar
economia verde e testilhar contra a pobreza não nos traz os resultados sobre a
“desigualdade no mundo contemporâneo”. Nem sobre a natureza! O cenário a ser
enfrentado é aquele em que “um indiano que nascer hoje consumirá ao longo de
sua vida o correspondente a 4 toneladas de materiais anuais. Um canadense vai
consumir 25.” A redução da pobreza que já está em curso, e presente nos
negócios públicos e privados nos modelos que conhecemos, não está respondendo a
essa relação.
Cada unidade
de riqueza é oferecida ao mercado sobre a base do uso decrescente de materiais.
Apesar desse avanço, entretanto, a extração de recursos da superfície terrestre
cresceu oito vezes durante o século 20, atingindo um total de 60 bilhões de
toneladas anuais, considerando-se apenas o peso físico de quatro elementos:
minérios, materiais de construção, combustíveis fósseis e biomassa. Essa lógica
continua a trazer a poluição e as emissões de gases de efeito estufa, mesmo em
processos teoricamente limpos de economias avançadas como Japão e Alemanha.
Pesquisa
realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
demonstram que o mundo industrial consumiu, em 2000, metade dos recursos
físicos (por unidade de produto) que consumia em 1975. Já o PIB mundial, em
2002, precisou de 26% menos recursos físicos (por unidade de produto) do que em
1980. Sobre a redução da pobreza, os números também positivos mostram que a
população mundial que vivia abaixo da linha da pobreza (com menos de US$ 2,75
por dia) é, desde 2008, 17% do total – 10 anos antes o contingente miserável
correspondia a 30% da população mundial.
Então, a
pergunta que não quer silenciar: por qual motivo o mundo continua virtualmente
dividido? Pelo fato de que, apesar de todos os esforços e de toda a ciência e
tecnologia, o mundo ainda vive o dilema de usar a natureza até sua exaustão… em
prol de uma “sociedade do bem-estar universalizado”. A solução para a equação deve
estar em uma economia compartilhada, ou seja, aquela dos bens públicos e dos
bens relacionais. Podemos citar como exemplo: a Itália, onde encontramos imóveis vendidos em frações e um sistema de reservas
permite que cada um dos proprietários usufrua das instalações em determinado
período do ano ou sempre que estiverem desocupadas; nos Estados Unidos, várias
empresas adotaram o novo conceito. A Air BNB começou alugando quartos de
moradores em outros países; hoje, disponibiliza até castelos, com clientes em
oito mil cidades. Outro exemplo é o ThredUp, que promove o compartilhamento de
brinquedos ou roupas infantis. No Brasil, há casos como a Beans!, um escritório
de coworking aberto em 2008 em São Paulo. A empresa atua em duas frentes: uma
rede social onde 1.400 empresários se ajudam virtualmente, e um espaço físico,
compartilhado por empreendedores diversos. Esses são apenas alguns exemplos de
uma nova tendência que está mudando a maneira como os negócios são feitos: a
economia compartilhada, ou economia mesh.
Brasileiros,
já passamos da hora de repensar hábitos enraizados de consumo, e mudarmos
nossas mentalidades, talvez só nos reste usar de muita criatividade. Nesse
caminho, será preciso buscar o reencontro das ciências naturais com as ciências
sociais; da economia com a natureza; e desta com a ética. Esse reencontro está
sendo um dos maiores desafios coletivos que a humanidade já enfrentou.
Fonte: GNACCARINI, Isabel. O Dilema entre a Natureza e a Economia: Crescer para quê mesmo? Revista
IV Congresso Brasileiro de
Jornalismo Ambiental (CBJA). Rio de Janeiro, 22 de novembro de 2011. Caderno
Notícias, p.18. Disponível em: http://cbja-rio2011.com.br/revista-iv-cbja.
Acessado em: 23 de março de 2012.
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