sexta-feira, 13 de abril de 2012

Os Óbices entre a Natureza e a Economia: qual o propósito do crescimento?



Sem objetivos claros na redução da desigualdade,
é forte o risco de que a própria legitimidade
da economia verde seja colocada em questão

Uma das perguntas mais difíceis de se responder é certamente esta: “Crescer para quê?” Sem sombra de dúvida, a ECONOMIA VERDE é a chave-mestra para chegarmos ao tão propalado desenvolvimento com sustentabilidade, podendo almejar um futuro mais equilibrado em um planeta inexoravelmente finito.

A divisão na atual relação entre a sociedade e os ecossistemas, onde tão somente acoplar economia verde e testilhar contra a pobreza não nos traz os resultados sobre a “desigualdade no mundo contemporâneo”. Nem sobre a natureza! O cenário a ser enfrentado é aquele em que “um indiano que nascer hoje consumirá ao longo de sua vida o correspondente a 4 toneladas de materiais anuais. Um canadense vai consumir 25.” A redução da pobreza que já está em curso, e presente nos negócios públicos e privados nos modelos que conhecemos, não está respondendo a essa relação.

Cada unidade de riqueza é oferecida ao mercado sobre a base do uso decrescente de materiais. Apesar desse avanço, entretanto, a extração de recursos da superfície terrestre cresceu oito vezes durante o século 20, atingindo um total de 60 bilhões de toneladas anuais, considerando-se apenas o peso físico de quatro elementos: minérios, materiais de construção, combustíveis fósseis e biomassa. Essa lógica continua a trazer a poluição e as emissões de gases de efeito estufa, mesmo em processos teoricamente limpos de economias avançadas como Japão e Alemanha.

Pesquisa realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), demonstram que o mundo industrial consumiu, em 2000, metade dos recursos físicos (por unidade de produto) que consumia em 1975. Já o PIB mundial, em 2002, precisou de 26% menos recursos físicos (por unidade de produto) do que em 1980. Sobre a redução da pobreza, os números também positivos mostram que a população mundial que vivia abaixo da linha da pobreza (com menos de US$ 2,75 por dia) é, desde 2008, 17% do total – 10 anos antes o contingente miserável correspondia a 30% da população mundial.

Então, a pergunta que não quer silenciar: por qual motivo o mundo continua virtualmente dividido? Pelo fato de que, apesar de todos os esforços e de toda a ciência e tecnologia, o mundo ainda vive o dilema de usar a natureza até sua exaustão… em prol de uma “sociedade do bem-estar universalizado”. A solução para a equação deve estar em uma economia compartilhada, ou seja, aquela dos bens públicos e dos bens relacionais. Podemos citar como exemplo: a Itália, onde encontramos imóveis vendidos em frações e um sistema de reservas permite que cada um dos proprietários usufrua das instalações em determinado período do ano ou sempre que estiverem desocupadas; nos Estados Unidos, várias empresas adotaram o novo conceito. A Air BNB começou alugando quartos de moradores em outros países; hoje, disponibiliza até castelos, com clientes em oito mil cidades. Outro exemplo é o ThredUp, que promove o compartilhamento de brinquedos ou roupas infantis. No Brasil, há casos como a Beans!, um escritório de coworking aberto em 2008 em São Paulo. A empresa atua em duas frentes: uma rede social onde 1.400 empresários se ajudam virtualmente, e um espaço físico, compartilhado por empreendedores diversos. Esses são apenas alguns exemplos de uma nova tendência que está mudando a maneira como os negócios são feitos: a economia compartilhada, ou economia mesh.

Brasileiros, já passamos da hora de repensar hábitos enraizados de consumo, e mudarmos nossas mentalidades, talvez só nos reste usar de muita criatividade. Nesse caminho, será preciso buscar o reencontro das ciências naturais com as ciências sociais; da economia com a natureza; e desta com a ética. Esse reencontro está sendo um dos maiores desafios coletivos que a humanidade já enfrentou.

Fonte: GNACCARINI, Isabel. O Dilema entre a Natureza e a Economia: Crescer para quê mesmo? Revista IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA). Rio de Janeiro, 22 de novembro de 2011. Caderno Notícias, p.18. Disponível em: http://cbja-rio2011.com.br/revista-iv-cbja. Acessado em: 23 de março de 2012.

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